Keeping Up With Thainá Zanholo

Da estética impecável aos cenários glamorosos, quem abre o Instagram de Thainá Zanholo não imagina as coisas que esses olhinhos bonitos já viram — menos ainda o que ela construiu com as próprias mãos antes dos 30.

Um Google rápido no nome dela já te dá um spoiler — embora não garanta a full picture — enquanto as manchetes anunciam:

Referência no mercado de empreendedorismo feminino“,

Referência na luta pela legalização da Cannabis no Brasil“,

Empresária fecha parceria com astro da NBA“… e mais!

Aí, sem saber em qual link clicar primeiro, é fácil se perguntar “Mas tudo isso ao mesmo tempo? Como assim?!” e a gente explica… ou tenta.

Brasileira de Osasco, na Grande São Paulo, Thainá mora na Califórnia há oito anos e é CEO e fundadora da Nowdays, uma equipe de jovens criativas da América Latina que promove uma nova forma de pensar sobre bem-estar e Cannabis. O objetivo é ajudar a eliminar o estigma em torno da planta apresentando uma nova ótica e abordagem sobre o tema… mas já já a gente fala sobre a Nowdays.

Antes, queremos falar sobre a Thainá e como foi que isso tudo começou a rolar… aliás, é ela mesma quem vai contar nessa entrevista exclusiva ao Keeping Up Project.

Na verdade, minha trajetória começou quando eu tinha só 15 anos. No início do ensino médio, entrei também em um tecnólogo de publicidade e isso foi bem no boom da internet, quando as redes sociais — tipo o Orkut — tavam começando a bombar. As marcas queriam estar lá e não sabiam como, então começaram a contratar a galera mais novinha que já estava super ativa nas redes… tipo eu“.

Antes de completar 16 anos, Zanholo começou a trabalhar em agências de publicidade como menor aprendiz e foi pulando por agências digitais em São Paulo, até entender que o que ela queria mesmo não era tão relacionado com a publicidade em si:

Eu gostava de trabalhar com editoria e cultura. Aí, com 17 anos, comecei a tentar ir pro lado fashion e consegui trabalhar em uma startup editando sites de moda do Brasil. Com isso, fui convidada para ser subeditora da RG Vogue… e foi um boom! Eu não tinha nem 20 anos e fui pra lá com aquele sonho de ‘O Diabo Veste Prada’ até que… bom, até que eu descobri que O Diabo Veste Prada é real [Risos]. Não aguentei ficar muito e entendi que talvez a moda não fosse minha praia, mas que eu ainda queria trabalhar com cultura, internet e gente jovem.

Com um nome já consagrado apesar da pouquíssima idade, não demorou pra que ela fosse convidada por um conhecido para integrar a equipe da Vice Brasil.

Foi uma experiência maravilhosa. Ali, aprendi a misturar cultura, política, moda, entretenimento e arte em um editorial diferente, que é o que hoje eu aplico muito dentro da Nowdays. A minha referência sempre vai ser a Vice, porque era uma editoria muito livre, muito gostosa de trabalhar.

Mas, alguns anos depois, essa pisciana resolveu mudar.

Eu tava com 20 anos de idade e queria crescer, mas parecia que não tinha mais espaço pra isso lá e eu já tinha trabalhado cinco anos da minha vida. Venho de uma família de Osasco que não tinha nenhum histórico de viagem internacional, mas sempre busquei fazer alguma coisa diferente e realizar sonhos por mim. Nisso, peguei uma grana que tinha guardado e vim pros Estados Unidos sem estrutura financeira e… acabei ficando.”

Foram três anos morando em Los Angeles “out-of-status“, termo utilizado para pessoas cujo visto ou permissão para ficar nos EUA tenha expirado. Durante esse período, Thainá não só conheceu o lado mais duro de ser imigrante, como também viu seu sucesso profissional precoce ser reduzido a… nada.

Foi como se todo o background que eu tinha construído na minha carreira, cinco anos de trabalho, tivessem ido por água abaixo.”

Apesar disso, Thainá insiste:

A Califórnia foi a melhor decisão da minha vida, sem dúvida nenhuma.

Fez com que eu olhasse pra dentro de mim e quebrasse meu ego em várias partes pequenas. Los Angeles mostra que ao mesmo tempo em que dá pra você ser convidada para o mesmo evento que o seu maior ídolo, você continua não sendo ninguém. São conexões fáceis de acontecer que vêm a preços muito altos, então é uma cidade que te coloca no seu lugar. Por isso é tão difícil… mas ao mesmo tempo tão prazeroso. É uma competição constante consigo mesmo: o quão melhor você consegue ser todo dia se quer estar vivo aqui? Eu gosto muito disso.

Hustling — no sentido de fazer as coisas acontecerem, fazer dinheiro, dar seus pulos — é a palavra que Zanholo usa com mais frequência, e a influência de LA na criação da Nowdays é evidente:

A Nowdays tem muito da Califórnia e essa liberdade de ser quem você é. Isso de não precisar esconder o que você faz ou deixa de fazer, o que você gosta… a liberdade de simplesmente ser é muito presente no dia-a-dia e eu quis trazer isso“.

Deixando de lado esse cenário hollywoodiano de liberdade e voltando à realidade brasileira — país que ocupa a última posição no Índice Global de Políticas sobre Drogas — é difícil não imaginar uma certa resistência à chegada da Nowdays no mercado.

A Cannabis já tinha uma comunidade brasileira forte e grande, mas muito segmentada, voltada a um público específico. Não tinha um espaço em que o público geral, como, sei lá, a minha mãe, pudesse encontrar informações válidas e fáceis sobre o assunto. Nem todo mundo tem o interesse em se aprofundar, mas é interessante que todo mundo saiba sobre o tema.

Só com a informação — que não precisa ser extremamente científica — é possível transformar a cabeça das pessoas. E isso tem acontecido, como mostra o crescimento absurdo e orgânico da Nowdays em menos de um ano. A resistência não tá vindo do público em si, muito pelo contrário. Estamos sendo muito bem recebidos pelas pessoas“.

Algumas das principais bandeiras levantadas pela marca são promover o bem-estar e melhorar a ansiedade, questões que entraram ainda mais em voga com a pandemia:

A gente viu o quanto as pessoas começaram a se sentir mais livres para falar sobre doenças mentais que afetam tanta gente. O Brasil é o país que tem o maior número de pessoas com ansiedade crônica, uma doença que te desestabiliza num nível que te impede de fazer coisas simples do seu dia-a-dia. É uma doença que atrapalha e que antes era escondida ou só tratada com remédios como ansiolíticos, que podem te ajudar em um aspecto específico e atrapalhar em outros.

Rola um medo de falar sobre como a maconha pode ajudar no bem-estar. Ela fica limitada à duas caixinhas: a do medicinal, para tratamento de doenças crônicas como epilepsia e câncer, ou a da droga recreativa. Não tinha um lugar para falar de bem-estar, de como pode ajudar no seu dia-a-dia… e eu quis abrir essa porta, tirar a Cannabis dessas caixas“.

Toda essa discussão ainda fica muito engessada em um cenário punitivista de criminalização.

O maior propósito da Nowdays é auxiliar na jornada da descriminalização da planta no Brasil. Nossa missão é, todos os dias, transformar um conteúdo de rede social em algo educativo que vá fazer com que mais e mais pessoas entendam as características da planta, o que faz bem, o que faz mal, qual é a situação dela no Brasil e o porquê da criminalização, que é o principal que as pessoas precisam entender.

Por que essa planta foi criminalizada, quando isso começou? É uma base 100% racista. Não existe outra explicação a não ser um racismo impregnado há mais de 100 anos que fez com que as pessoas começassem a olhar uma planta de forma diferente e associar isso pejorativamente a pessoas de uma cor em específico.

Isso tem que ser quebrado e pra mim o único jeito de fazer isso é com educação. Nosso pilar é ser divertido, simples, mas ao mesmo tempo passar informação o tempo inteiro. Fazer com que as pessoas entendam que a criminalização não tem nada a ver com o fato dela ser psicoativa ou não, mas com essa base racista.”

Ok, ladies, now let’s get information!

No dia 05 de abril a Nowdays completou 1 ano de existência e, além dos conteúdos informacionais divulgados nas redes, a marca também vende ~acessórios Cannábicos~ que já caíram nas graças do hype. Embora toda a idealização e inspiração pro projeto tenha surgido na Califórnia, sua atuação na terra do Tio Sam começa agora e em alto estilo — no começo desse ano, o astro do NBA Baron Davis se tornou sócio da Nowdays, mas as novidades não param por aí:

A gente tá começando agora a existir nos Estados Unidos e produzir conteúdo aqui. Vamos lançar produtos que são mini-baseadinhos a Nowdays vai ser a primeira empresa brasileira a produzir um pack de baseado [risos]. Isso me dá muito orgulho, quero poder continuar trazendo inovação e coisas que podem mudar o estilo de vida das pessoas pra melhor e, no futuro, mudar o Brasil economicamente pra melhor também. Fazer a diferença de alguma forma me deixa muito feliz“.

Com um currículo de sucesso na cidade dos anjos e também nesse país tropical, Thainá segue sua jornada com apenas uma direção em mente: pra cima, sempre.

O Keeping Up Project não se responsabiliza pela opinião de seus entrevistados. Sugerimos que os leitores sempre busquem informações auxiliares e orientação de um medico antes de fazer uso de qualquer substância para fins medicinais.

Pro Brasil, ficam nossos desejos de fim da guerra às drogas e o genocídio do povo preto. Pro indivíduo, a responsabilidade, informação e conhecimento das próprias condições antes do uso de toda e qualquer substância.

Publicado por

Jornalista, geminiana, paulistana & esquisita. Gosto de geopolítica, arte, cultura pop e aleatoriedades em geral. Por aqui, acho importante trazer temas que abordem diversidade, ativismo e outras causas relevantes — além de entrevistas que mostrem lados que as redes sociais nem sempre exploram =) No Keeping, assino meus textos como Kyra, e você pode conhecer mais sobre meu trabalho aqui: https://www.linkedin.com/in/jamilediniz/

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