
O ano era 1994, 12 de junho, quando Nicole Brown Simpson foi encontrada morta a facadas ao lado do corpo de um homem, Ron Goldman, tido como seu suposto namorado na época. O caso poderia passar despercebido nos noticiários não fosse tamanha brutalidade em um bairro nobre de Los Angeles, nos EUA, e da moça tratar-se de ninguém menos do que a ex-mulher de um dos maiores ídolos do futebol americano, Orenthal James, o “O.J.” Simpson.
Ídolo da NFL, na época O.J. já não atuava mais nos campos, mas acumulava campanhas publicitárias, além de ser comentarista em uma rede de TV e fazer pontas como ator em diversas produções, como “Corra que a Polícia Vem Aí!”, o que naturalmente gerou um grande interesse midiático na história.
Logo no começo da investigação se foi descartado o duplo homicídio por latrocínio, roubo seguido de morte, pois na casa não havia sinais de invasão e tudo estava intacto, o que jogou luzes para a possível participação de alguém próximo às vítimas. Não demorou muito para que O.J. se tornasse o principal suspeito, já que em seu carro e sua casa foram encontrados rastros de sangue, além de uma luva preta, também com amostras dele e de Nicole. E o histórico do ex-atleta de fato não era dos melhores. Além de diversos chamados da modelo contra o ex-companheiro na polícia, entre acusações de perseguições e agressões, com fotos de lábios machucados e roxos por todo o corpo, haviam outras provas contundentes da agressividade dele, como a vez em que chegou a quebrar o para-brisa de um carro com um taco de baseball.
Para não se entregar à polícia, ele ameaçou tirar a própria vida e tentou fugir, em uma corrida que foi acompanhada ao vivo por cerca de 95 milhões de pessoas. Para se ter uma ideia da repercussão, os canais interromperam as transmissões dos jogos da Copa do Mundo e das finais da NBA, um feito inédito.
Já o julgamento, considerado “do século” e que durou quase um ano, entre 1994 e 1995, também foi transmitido por TVs e rádios, e acabou com O.J. absolvido, apesar de todas as evidências apontarem para ele como autor dos crimes. Entre polêmicas com a promotoria de acusação, afobada nos esforços em condená-lo, e uma possível influência racial, em um Estados Unidos que vivia um acalorado debate contra o racismo e uma polícia que acumulava denúncias de práticas abusivas contra a população negra. Apesar disso, dois anos depois, um julgamento realizado por um júri civil, mas não menos controverso que o primeiro, o responsabilizou pelos assassinatos e ordenou o pagamento de multas milionárias aos familiares das vítimas. Em 2007, uma nova baixa, quando O.J. foi preso e condenado a 33 anos de prisão pela prática de outras infrações, como roubo à mão armada, sequestro e associação criminosa, saindo em condicional cerca de 10 anos depois, em outubro de 2017, por bom comportamento na prisão.
Quem não acompanhou o caso, se surpreende ao saber que Robert Kardashian, pai de Rob, e das influencers Khloe, Kim e Kourtney, era amigo íntimo da estrela e participou até o fim de sua defesa nos tribunais. O.J. chegou a ser padrinho de casamento de Rob e Kris Jenner, que àquela altura já haviam se separado. Mesmo assim, nem com a posição da justiça favorável ao astro foi capaz de manter a relação entre eles, meses depois, em entrevista à ABC, o advogado revelou não ter mais tanta certeza sobre a inocência de O.J. e que estranhou o comportamento dele na curta temporada que o ex-jogador passou em sua casa. Robert faleceu em setembro de 2003, após ser diagnosticado com um câncer no esôfago.

Kris era tão próxima de Nicole, que batizou uma das filhas, Kendall Nicole Jenner, em homenagem ao nome da amiga. A matriarca das Kardashians já comentou publicamente, inclusive, que sua sensação com a tragédia foi de perder dois irmãos ao mesmo tempo, a modelo e o O.J., já que o ex-casal frequentava sua casa e eram tidos como parte da família. Surgiram até rumores de ter acontecido um possível envolvimento amoroso entre Kris e O.J., sempre repudiados pela empresária.
Recentemente, Kim também comentou em entrevista ao “My Next Guest No Need No Introduction”, como o caso dividiu a família, já que sua mãe ficou do lado da família da vítima, enquanto o pai acreditou piamente na inocência do então amigo. “Nós realmente não sabíamos em que acreditar ou de que lado ficar, porque não queríamos ferir os sentimentos de um dos nossos pais. Isso separou minha família, eu diria, durante todo o período do julgamento”, relembrou a empresária, que na época tinha 14 anos.
A história voltou à tona recentemente, em 2016, com o lançamento de “American Crime Story – The People v. OJ Simpson”, série documental estrelada pelo impecável Cuba Gooding Jr. e que recontou a história, abordando todas as polêmicas e reviravoltas desde o começo da investigação. Há também outros documentários, da ESPN e da Discovery Channel, que trazem mais evidências e até relatos pessoais de um diário de Nicole, onde fica evidente novamente o medo que a modelo tinha do ex-companheiro.
Inacreditavelmente em 2018, uma nova, mas não tão surpreendente informação, veio à tona quando a Fox recuperou uma antiga entrevista de O.J., de 2006, onde ele praticamente confessa o assassinato, relatando detalhes do ocorrido de forma “hipotética”. No material de quase duas horas de duração, ele conta para a jornalista Judith Regan exatamente o que teria acontecido, alternando entre terceira e primeira pessoa. ´A tranquilidade com que o ex-atleta fala e chega a rir em um dos momentos, ao tentar desconversar, assusta. Na época O.J. estava prestes a lançar seu próprio livro, do qual o título seguia a mesma linha, “If I Did It” (“se eu tivesse feito”, em português), mas a publicação acabou sendo cancelada pela editora por ter um capítulo igualmente polêmico em que ele voltava a abordar a autoria como um “se”. Mesmo assim 400 mil cópias foram impressas e chegaram até a caírem na internet, em 2007 um tribunal da Flórida concedeu os direitos da obra à família Goldman após o julgamento civil e alterou o título para “I Did It: Confessions of the Killer” (“Eu fiz: Confissões de um Assassino”, em português).
Hoje, pouco mais de 25 anos da tragédia, o ex-atleta está com 73 anos e segue a vida normalmente, fora dos holofotes, mas ainda ativa nas redes sociais, como o Twitter, onde compartilha vídeos jogando golfe e faz até comentários de política. Quem não sabe de seu histórico mal e vê as postagens acredita tratar-se apenas de um mero jogador aposentado, mas o fato é que a sua família nunca mais foi a mesma. De acordo com um livro de Tom Scotto sobre Simpson, de seus cinco filhos (um deles faleceu em 1979, com 2 anos de idade), ao menos três – Sydney, de 35, e Justin, de 32, frutos da relação com Nicole; e Jason, de 50 anos, do casamento com Marguerite Whitley – não querem ter qualquer contato com o pai, apenas a primogênita, Arnelle, de 52, também filha de Marguerite, ainda falaria com ele.
Ter se livrado do cárcere pode até ter compensado para O.J., por anos levando uma vida de regalias e liberdades, mas inevitavelmente vazia. Sem amigos, sem os filhos e sem prestígio, apenas com a repulsa do público que um dia o tornou ídolo do futebol americano.
amei o post e a ideia do blog!!!
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e a Keep faz tudoooo ❤
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Que texto maravilhoso!! Recomendo muito, pra quem quer saber mais detalhes, a série American Crime Story, da netflix. O livro o povo contra O.J Simpson, da editora darkside, é extremamente detalhado também.
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Essa série é incrível mesmo, superprodução! Sem contar a atuação do Cuba Gooding Jr. é impecável, né?
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Eu nunca soube desse caso, agora já quero o livro… Parabéns pela matéria.!
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Eu to amando demais esse blog, pelo amor de Deus! Obrigada! Que saudades que eu tinha de blogs, de conteúdos assim!!!
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Aiii que incrível! Muito legal saber disso, nos motiva a trazer mais histórias pra vcs ❤
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O clipe de “nothing breaks like a heart” da miley com M.R faz várias críticas sociais, inclusive a esse caso, onde a população ficou assistindo o seu “ídolo” fugir… o clip todo tem essa estética dela fugindo e as pessoas aclamando
Gostei muito do texto, rico em detalhes.
Parabéns
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