Filha de Glória Perez, a jovem atuava com seu assassino na novela “De Corpo e Alma”

Um dos casos mais chocantes da história da TV brasileira, ainda é difícil relembrar tudo o que envolve o assassinato de Daniella Perez e como uma atriz promissora se tornou vítima de um assassinato brutal cometido por um colega de elenco, quando ainda muito pouco se falava sobre feminicídio.
Filha da autora Glória Perez, a jovem sempre foi muito ligada à arte e, antes de migrar para a TV, ela se dedicava apenas ao ballet, chegando a fazer parte de uma das maiores companhias de dança do Rio de Janeiro. Mas foi na TV que Dany, como era chamada pelos amigos, realmente se encontrou e descobriu a paixão por atuar.
Em sua primeira aparição nas telinhas, em “Kananga do Japão”, em meados de 1989 na extinta Rede Manchete, ela não só foi muito elogiada pela atuação, como ainda conheceu e se apaixonou pelo galã Raul Gazolla, com quem se casou no ano seguinte.
Três anos depois, já aos 22 anos e no elenco da novela “De Corpo e Alma”, escrita pela mãe na TV Globo, Dany vivia seu momento de maior destaque ao interpretar a irmã da protagonista, vivida por Cristiana Oliveira. Querida pelo público, ela estava em um dos núcleos principais da trama e contracenava com Eri Johnson e Guilherme de Pádua, cujos personagens disputavam o amor da jovem Yasmin.
A noite do crime
28 de dezembro de 1992. Em mais um dia normal de gravações, Daniella e Guilherme deixavam o set de gravações e chegaram a ser parados por fãs para tirarem fotos, em seguida se despediram e cada um foi para seu próprio carro. Dani ligou para o marido e o avisou que logo chegaria em casa, já Guilherme encontrou, ainda no local, sua então companheira, Paula Thomaz. Ali começava a emboscada que tiraria a vida da atriz.
Guilherme e Paula perseguiram o carro de Daniella, chegando a parar no acostamento até que pudessem avistá-la, o que aconteceu um pouco mais à frente, em um posto de gasolina. Em uma ação rápida, Guilherme cercou a colega e teria lhe dado um soco que a fez perder a consciência. Ele e a esposa a colocaram no carro e seguiram, Paula dirigindo o Santana e ele o Escort de Dany, para uma região de mata ainda na Barra da Tijuca, onde desferiram 18 punhaladas na atriz, quatro no pescoço e o restante na região do coração.
A filha de Glória Perez não teve sequer a chance de reagir, se defender ou escapar da armadilha. Para simular um assalto, o casal ainda levou duas bolsas pessoais da vítima e, possivelmente, que cerca de 6 mil dólares que estava dentro de uma delas, valor que Dany havia separado para dar de entrada em um carro novo.
A movimentação da dupla no local, no entanto, gerou suspeitas e fez com que o advogado Hugo da Silveira, que passava pelo local a caminho da casa da filha, anotasse uma das placas, um Santana OM 1115, e acionasse a polícia.
Frios e calculistas, os dois, agora também companheiros de crime, foram embora com a mesma tranquilidade em que chegaram. No caminho, pararam para lavar o carro, antes de seguirem para o caminho de volta. Já em casa, Paula, grávida de quatro meses, aproveitou para descansar, enquanto Guilherme foi caminhar na orla de Copacabana.
Horas depois, quando a polícia encontrou o carro abandonado e, em seguida, o corpo da atriz, não demorou muito para a identificarem e o caso correr por toda a imprensa. Do outro lado, começava o sofrimento da família. O marido e a mãe dividiram os momentos de desespero, primeiro com o sumiço de Dany, depois com a confirmação de sua morte extremamente violenta e repentina.
Nas horas seguintes, Raul ficou sem dormir e sem comer, completamente paralisado pelo choque. No velório, as imagens dele desesperado e em prantos preencheram as manchetes e deram o tom da tristeza que tomava toda a classe artística. Para não levantar suspeitas, Guilherme chegou a ir ao velório e oferecer seus pêsames aos amigos e familiares, sem um pingo de remorso. O personagem na vida real, tal qual o do folhetim, não durou muito tempo e no mesmo dia a farsa caiu.
A pista de Hugo, que se tornou a principal testemunha do caso, foi essencial não ´´só para ajudar a elucidar o caso, como também para incluir Paula no loca, já que ele a viu no banco do passageiro. Ao chegarem nos estúdios da gravação, os policiais procuravam pelo Santana OM 1115, mas encontraram apenas um Santana LM 1115, de Guilherme. Para tentar despistar uma possível investigação, o assassino havia colado fita isolante nas letras para alterar a placa do veículo.
Já no primeiro contato com os investigadores, ambos confessaram, informalmente, a autoria do crime. A motivação? Nunca foi dita. Acredita-se em uma conjunção de atos egoicos, entre o ciúme possessivo de Paula pelas cenas quentes do amado com a jovem, além da ira dele em ter tido algumas de suas cenas reduzidas na novela dias antes. A audácia do ator foi tanta, que ele chegou a acusar a vítima de o ter assediado, algo que foi repudiado veementemente por todos que trabalhavam com eles.
No julgamento, cinco anos depois, Guilherme foi condenado em 19 anos de prisão, Paula em 16; mas foram liberados em 1999, assim que cumpriram um terço da pena. Hoje, já separados, ela se casou novamente, se formou em direito e vive uma vida de classe média na zona sul do Rio de Janeiro; já ele mora em Minas Gerais, se converteu, virou pastor e sempre faz questão de aparecer na mídia e falando sobre o crime.
O amor de Raul
Em uma rara entrevista recentemente, ao programa “A Noite é Nossa”, Raul comentou sobre Daniella e as dores de ter vivido uma história que acabou com um fim tão trágico. “Eu lembro exatamente de cada detalhe”, lamentou.
Hoje, pouco mais de 28 anos do caso, o ator consegue enxergar o machismo em torno do caso quando levantou-se a hipótese de crime passional, por um possível envolvimento da atriz com o então colega de elenco, como se algo fosse possível de justificar o que aconteceu.
“Uma das coisas que mais me impressionou [foi que] nós tivemos que lutar pela inocência da Dany… Tivemos que provar a inocência de uma pessoa assassinada. Queriam colocar na conta dela um ‘caso’ com o assassino e [que] por isso foi assassinada. Ela não teve um caso com ele se tivesse tido, por isso pode ser assassinada?!”, desabafou.
Dizendo acreditar em uma justiça divina para o caso, Raul disse ter ficado revoltado quando descobriu os detalhes do crime, e revelou que o Guilherme de Pádua já vinha importunando a jovem há algum tempo. “Eu me lembro que, na última semana, ela não atendia a telefonemas dele. E eu falava ‘pô, o cara é seu amigo, você não vai atender?!’, e ela falava ‘pô, ele é chato para car*lh*’. Ele já tinha dado em cima dela e ela já tinha dito para ele ‘olha, você não entendeu, eu vivo bem com o meu marido’.”
Casados há dois anos quando a história de amor foi interrompida, eles faziam muitos planos, todos interrompidos, inclusive o de ter filhos juntos. Demorou mais de dez anos para que Raul superasse o trauma, quando conseguiu reencontrar a felicidade com Fernanda Loureiro.
Outra coisa que não mudou foi a relação de amizade com a ex-sogra, Glória, e o carinho parece ser mútuo. “O Raul é uma pessoa muito, muito querida por todos nós. É família, gente nossa de verdade. Durante todos esses anos, ele tem sido uma presença carinhosa, solidária. E para mim, a filha dele, a Rani, é como se fosse a minha neta, e eu fico muito feliz de ver como ele recompôs a vida e formou essa família tão feliz que eles têm hoje”, disse a autora, em mensagem de áudio para o programa.
Desde 1993, em todo dia 11 de agosto, Glória celebra o aniversário da filha, que, se estivesse viva, neste ano completaria 51 anos. Á pedido dela, a novela “De Corpo e Alma” nunca mais foi retransmitida, sendo uma das poucas produções da TV Globo que não entraram no “Vale a Pena Ver de Novo” ou no “Canal Viva”, como já é tradição na casa. Até hoje é mantido um site com informações sobre a vida de Dany, como forma de que sua imagem e memória seja para sempre respeitada.
Extremamente triste essa história! Me causa arrepios toda vez que lembro ou vejo algo sobre.
Que ela esteja em paz 🙏🏻
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Aiii Lu, sim! Muito triste relembrar e rever os detalhes, não imagino como é para família ter que lidar com essa dor até hoje 😦
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So uma correção: na novela quem disputava o amor dela era o Guilherme e Fábio Assunção.
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Oii Ana, obrigada pelo comentário ❤ no início Yasmin e e Reginaldo (Eri) viviam de trelelê, aí depois veio o enredo com o Fábio, até por isso as cenas de Guilherme começaram a diminuir, porque o romance dos personagens de Dany e Fábio começou a evoluir.
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Esse caso é muito cabuloso! Chega me dá calafrios!!! O pior de tudo é que existem alguns relatos de que eles usaram magia negra com a morte dela, no Google tem até fotos do caso… muito muito triste! Que a justiça divina seja feita!
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Aiii, menina, simmm! Infelizmente o caso renderia muitos textos sobre, porque é bem complexo e com muitas ramificações. Tentei não entrar nestes detalhes, primeiro por serem indícios e também por ser pesado demais para a família, mas é realmente muito triste 😦
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Um caso de extremo machismo realmente!! Ciúmes do marido? Porque ela seria culpada de algo que (se tivesse mesmo acontecido) seriam 2 culpados e não apenas um… não lembrava sobre o caso mas imagina a família viver com isso até hj sem saber o que de fato incentivou tal crueldade ou então saber que hj a moça que a matou ESTUDOU DIREITO???? E o cara VIROU PASTOR??? A vida é muito injusta!
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Pois é, Mari! Muito complicado, né? Uma vida ser tirada assim, acho que a família nunca mais consegue voltar ao normal. O pai dela, por exemplo, com quem ela era bem apegada, acabou falecendo pouco tempo depois. Deve ser uma tristeza que nunca mais passa.
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Eu tinha 10 anos de idade qdo esse triste fato aconteceu. E, mesmo sem assistir essa novela, me lembro com clareza de como essa tragédia repercutiu, logicamente que eu não tinha a dimensão do caso, mas conforme fui crescendo e fui entendendo o quão horrível foi e a motivação nunca foi clara (ou disseram que foi o ciúmes da Paula, o que continua sendo bem absurdo ainda).
Depois disso, além da filha, Glória Perez tbm perdeu outro filho acho que por problemas de saúde.
E a mãe, por mais que viva, que busque seguir a vida, nunca mais será a mesma
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Eu não cheguei no nível de evolução ainda pra acreditar que esses dois miseráveis mereciam uma “segunda” chance. Sei lá.
E queria fazer um pedido, escrevam sobre o caso Selena Quintanilla?
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